terça-feira, 1 de março de 2011

This history starts here, my first experience living alone.


Já é possível conceber para onde vão todas as quinquilharias que juntei nos 23 anos em que morei com os meus pais. Imaginar onde serão pendurados os meus quadros, posters de viagem, a disposição dos móveis e a tonalidade das paredes. Assim, se inaugura a minha primeira experiência morando sozinha. De forma que prontamente um misto de sensações que se a unem a expectativa vem povoar meus dias. Mudanças sempre me interessaram. Muitas vezes passei pelos lugares e vislumbrei suas reformas. A palavra que melhor se adequa a essa realidade é a transformação. Toda mudança implica necessariamente uma tranformação. É possível observar que esta por sua vez, vêm sendo a tônica do tempo em que vivemos. Tudo se transforma rapidamente, admite novos contornos, redefinições, e assim nós mesmos vamos nos habituando a esta premissa, fazendo de nossos dias um palco de experimentações. É fato que o tempo é curto e que a versatilidade nunca foi tão necessária para conviver socialmente e também circular nos espaços públicos. Se estamos a procura de novas oportunidades, obviamente a inovação dá asas aos nossos calcanhares a ponto de atravessarmos a cidade a passos largos, como eu mesma o fiz nesta tarde, em busca do meu futuro apartamento.


Procuro um espaço de quatro cômodos contando com banheiro, cozinha, sala, quarto e área de serviço. Algo que possa abrigar à mim, e todos os meus pertences que vem junto na mudança. O motivo dela? Ainda não é óbvio, mas estou empreendendo esta aventura para aprender. Voltar a faculdade será apenas uma das perspectivas que busco neste novo ninho. Nunca estive muito certa do que iria encontrar pelo caminho, assim como a maioria das pessoas, mas confio na intuição. Desde sempre cruzei pelas ruas de Porto Alegre como uma visitante. Observando o ir e vir das pessoas e o movimento característico desta cidade. Costumava ir no oftalmologista ali no Moinhos. Entre a sala de espera da clínica Lavinsky, sobrava um tempinho para ir no Mc Donalds da 24 e comer um big mac. Ah, como eu adorava esta porcaria de JUNK FOOD.


Meus óculos combinavam com a minha postura infantil. Inquieta eu sempre estava em busca de algo, o que me tornava uma criança um tanto impertinente, difícil de satisfazer, não muito diferente das de hoje. Me acostumei a andar de ônibus e táxi, quando descobri o metrô, me apaixonei. Nunca andei de trem Zurb, só aos 22 anos fui saborear uma experiência parecida em Londres, quando pus os pés pela primeira vez no famoso Underground- The Tube. Mas de qualquer forma, ambos em movimento sempre estarão ali para eu arriscar uma voltinha.


Tempos bons que me voltam à memória, dias frios e dias quentes, acompanhada pela mão de meus pais aos poucos eu fui absorvendo os novos ares da capital, de forma que aqui, sempre me senti bem acolhida. Meu retorno sozinha, sem nenhuma mão para me guiar é emblemático. Poderia ter acontecido muito antes de eu ter concluído a faculdade, porém, a vida me resguardou para estar aqui, neste momento.

A pós-graduação é uma oportunidade de descobrir uma Porto Alegre que eu desconheço. Cavocar suas facetas mais reconditas, que dificilmente se apresentariam nas minhas memórias infantis.


Contemplar as ruas com um certo realismo é uma tática necessária de sobrevivência. Nestes dias que estou por aqui, acompanhei pela televisão as notícias sobre o incidente que ocorreu com a massa crítica, aquela turma de ciclistas que estava fazendo uma manifestação ali na rua José do Patrocínio, na cidade baixa, quando um motorista avançou derrubando de suas bicicletas aqueles que cruzavam seu caminho. A cena é realmente chocante. É complicado aceitar, e a sociedade se sente constrangida em constatar que o fato é real, antes fosse um pesadelo. Vi pessoas em estado de choque, através do olhar, gestos e fala elas suplicavam nas imagens que alguém dissesse, isto não é real, antes fosse um sonho. Foi também a mudança por sua vez, o mote daquele passeio, que de manifestação adquiriu uma amplitude muito maior do que a pré-concebida. Apesar de um ato isolado de selvageria, a sociedade em geral se comoveu com a barbárie e este movimento só ganhou força. O que era a causa de uns, virou a causa de todos. O desejo de justiça prevalece sobre a nossa postura de consternação. Isto também entra para o HALL das primeiras impressões da minha nova história: como sobreviver morando sozinha.

Um comentário:

  1. Desde o meu plantão, dou as boas-vindas. Porto Alegre, terra de boçais (como o do incidente de sexta), mas também de cenas encantadoras. Desde já estás intimida para o baile de aniversário da cidade, uma vez ano ano, na Redenção, em março - o único dia que o parque é frequentável à noite.
    Bjs, Rossana.

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