sexta-feira, 11 de março de 2011

Quantas vozes o mundo já calou?


Temo pretender uma conspiração reflexiva. Pelo contrário, fujo deste estereótipo mesmo que o título insista em sugeri-lo. O motivo pelo qual nasceu esta indagação é fundado em uma abstração que tive ao ouvir a lendária música Imagine de John Lennon. Não o conheci pessoalmente, uma lástima, muitos gostariam de ter tido esta oportunidade.

Ao mesmo tempo, ao observar as notícias que estão no foco de debates dos meios de comunicação, sobre a Tsunami que arrasou o Japão, dentre tantas outras relacionadas a catástrofes, mortes, guerras e conflitos ao redor do mundo, percebi que a paz de que ele falava, está longe de ser um ideal em nossa sociedade. Enquanto o mp4 player roda a playlist e sem querer Imagine toma conta dos meus ouvidos: "Imagine no possessions I wonder if you can No need for greed or hunger A brotherhood of man Imagine all the people Sharing all the world", sugerindo a imagem do ex-beatle a minha frente, e toda a aura mística que a mídia criou em volta de sua personalidade no show bizz, como pacifista que queria mudar o mundo através de seu trabalho artístico e da letra de suas músicas, me ponho a relacionar os acontecimentos atuais em foco, fora os tantos outros que me recordo, e me pergunto: quantas vozes o mundo já calou?

"Na madrugada de 8 de dezembro de 1980, o mundo foi surpreendido com a notícia da morte de John Lennon, em Nova York. Ele fora baleado por volta das 23 horas, por um fã fanático e desequilibrado."

Ao ler o fragmento da notícia acima, você realmente acredita que fora um fã fanático e desequilibrado que acabou com a vida de John Lennon? De certa forma, foi ele sim, quem foi lá e disparou os tiros, mas não são poucas as evidências que convergem para algo muito mais brutal e maquiavélico do que isso. Muitos acreditam que o Estado encomendou a morte do jovem inglês pois ele estava dando muito trabalho para o governo Americano que não queria que a "massa" ou seja o povo, muda-se sua opinião frente as políticas adotadas por eles, que viriam a sustentar os pilares da economia global nos anos posteriores. A força do capital sempre fala mais alto. Tanto a morte de John Lennon, como a de qualquer outro cidadão comum, ou mesmo as catástrofes naturais de que se tem notícia estão mesmo que de forma indireta, interligadas uma a outra pelo simples fato de nós, humanos, ignorarmos os limites que a nossa natureza impõe para ir até os últimos fins, para e pelo capital.

Vivemos em um tempo em que nossas necessidades não são de fato reais, e sim desejos entrojetados por uma ótica que pensa o mundo através do consumo. Nós somos seres consumistas que estão aos poucos sendo consumidos. O preço que temos que pagar é caro, e infelizmente a moeda de câmbio somos nós mesmos. Aproveitando a deixa vou anexar aqui alguns trechos da matéria feita pela jornalista Amy Davidson do New Yorker, que muito bem relacionou os fatos atuais ao sistema econômico e político que rege o mundo contemporâneo.


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A daily look at war, sports, and everything in between, by Amy Davidson


JAPAN: EARTHQUAKE, WATER, FIRE



An earthquake has hit Japan—at 8.9 on the Richter scale, the biggest ever recorded there. It was 2:46 in the afternoon, and the center was two hundred and fifty miles northeast of Tokyo, in an unhelpfully shallow part of the seabed. Train lines were turned into ribbons, debris fell wildly, an oil refinery caught fire. (It was strangely disorienting to see those pictures so soon after the news of another refinery, thousands of miles away in Libya, hit by an airstrike. We get our destruction in many forms.)

The scenes from Japan are awful. And yet: If you need evidence of why earthquakes are political and economic, almost as much as natural, experiences, look at the pictures from Japan, and the accompanying charts. Then remember the ones from Haiti. This is not to diminish what Japan is going through now, and the terror of the day for the people there; this has been a major blow, and many people are dead.

Nos dois fragmentos do artigo, Amy menciona eventos simultâneos que vem acontecendo em diferentes pontos do planeta para então alertar: "we get our desctruction in many forms". É fato, estamos vivendo uma etapa única na história do planeta. Talvez a conversa com John Lennon não seja possível, mas agora é mais do que compreensível a sua misticidade. Se nesse mundo não podemos ser míticos, optemos por tentar sermos místicos.

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