quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

14 dias.


Para algumas pessoas, como eu, as férias simbolizam o começo do ano. Aguardei ansiosamente este momento como se mesmo o final do ano que passou não simbolizasse qualquer coisa. E foi assim, que na metade do mês de janeiro pedi as contas do meu emprego e parti para o litoral, com o pensamento constante de relaxar, inspirar e espirar a brisa marítima que magicamente, invade os pulmões renovando nossas energias e refletindo em nossos pensamentos esta transmutação. Abaixo da chuva ou mesmo sob o guarda-sol, que muito não se fez necessário, pois nestas férias meu corpo foi o meio de transporte e abrigo para as idas e vindas, subindo e descendo morros, encontrando pequenos paraísos banhados por um oceano sem fim, interminável, que tem por mérito representar o infinito que não podemos tocar com as mãos, apenas sentir através de seu movimento, compassado, perfeito, uma maré orquestrada. Nestes dias, pude sentir a paz, encontrar alívio observando as ondas do mar, e vislumbrar terras distantes, fantásticas, concebidas apenas nos lugares mais ocultos da imaginação. E pude contemplar, um ser diante de mim, eu mesma, em carne e osso. Fervendo na areia e derramando gotículas de suor a medida que meus passos alcançavam as alturas das pedras encravadas em montes rochosos, ou mesmo ali, sentada, vislumbrando a imensidão. Os dias se passaram assim, sem que eu percebesse que eram nos momentos em que eu me distanciava do mar, que eu poderia cair novamente na realidade e me banhar em outro oceano o das relações interpessoais. Aquela coisa, estar na casa de praia com a família inteira requer algumas habilidades que não aprendemos contemplando o mar, e nem mesmo a paz que este transmite se estende além da faixa de areia. Por isso digo e repito, que trata-se mesmo de um transe mágico. Voltando à superfície terrena, creio que a nossa densidade por fim se exalte mais do que em qualquer outro lugar. Sentimo-nos emplumados de uma fantasia sem brilhos ou paêtes, pelo contrário, panos leves cobrem nosso corpo, e a pele a cada dia ganha uma tonalidade dourada, amaciada pela estrada, e pelo sol que não perdoa. Não planejamos a próxima refeição, apenas buscamos o aconchego dos lençóis, quando percebemos que nosso corpo não acompanha nossas vontades, não concebendo a hipótese de que mesmo que tenhamos todo o tempo do mundo, ainda assim, não faremos tudo que de fato gostaríamos. Então, acordar pela manhã e se desvincular do retrato habitual da praia em família, é como uma brincadeira que todos admitem gostar. Mesmo nas férias as tensões normais entre pais e filhos existem, no café-da-manhã ou no jantar, sempre surgira um pedido de quem lavará a louça, ou varrerá o chão, ou mesmo um xingamento estridente ora porque não pendurou sua toalha ou mesmo as roupas de banho, porque entraste em casa com os chinelos sujos de areia ou qualquer outra reclamação habitual. Ainda assim, a junção de pessoas que estão aparentemente fora do seu "ninho", e insistem em repetir as mesmas práticas que adotam em suas casas, vale a pena. Quem lê esta descrição até parece que estou criticando os hábitos de outrem, pelo contrário, estou mesmo é reconhecendo de que são necessários, todavia as qualidades do conviver em férias na praia não se exaltariam. Creio que quando saímos de casa, inconscientemente buscamos por dentro da mala tudo que nos é mais estimado como se nunca mais fossemos voltar. Na maioria das vezes não precisamos nem da metade do que é depositado dentro dela, mas o fazemos por medo. Por receio de não estar suficientemente preparados ou munidos para viver o desconhecido, as surpresas e as aventuras que as férias podem revelar. Estou chegando no ápice da minha história, no ponto chave que pretendo discorrer amanhã. A mala, aquela mala cheia de coisas, aonde está?

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